domingo, 27 de junho de 2010

A Queda da França segundo W Shirer





Diário de Berlim
W Shirer

Trad. Alfredo C. Machado

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BERLIM, 27 de junho [1940]

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“Um retrospecto dos acontecimentos.

Devo fazer algumas reservas. Ainda é demasiadamente cedo para saber tudo que se passou. Ademais, não foi possível observar tudo. De forma alguma.

Entretanto, pelo que vi na Bélgica e na França e pelo que depreendi das conversas cm franceses e alemães nos dois países, bem como com os prisioneiros franceses, belgas e ingleses que encontramos pelas estradas, parece-me inteiramente claro que:

A França não lutou.

Se o fez, existem poucas provas. Não somente eu, mas muitos de meus amigos foram e voltaram da fronteira alemã até Pari, percorrendo as principais estradas. Entretanto, nenhum de nós pôde observar qualquer sinal de uma luta séria.

Os campo da França estão intactos. Não houve a menor luta ao longo de uma linha bem defendida. O Exército Alemão limitou-se a avançar pelas estradas. Mesmo nessas estradas, são poucas as provas de que os franceses tenham feito mais que aborrecer um pouco o inimigo. E mesmo isso só foi feito nas cidades e aldeias. De fato, o que fizeram foi realmente importunar, retardar um pouco a marcha alemã. Não se registrou nenhuma tentativa de fincar pé numa linha de defesa, para depois desfechar um contra-ataque bem organizado.

...

D. B., que encontrei em Paris e que assistiu à guerra do lado de lá, chegou à conclusão de que a traição grassou no Exército Francês de alto a baixo – os fascistas no alto, os comunistas embaixo. E tanto de fontes alemãs como francesas ouvi muitas informações sobre a ordem que o Partido Comunista enviou aos seus adeptos para que não lutassem, uma ordem que eles cumpriram à risca...

Muitos prisioneiros franceses afirmam que nunca viram uma batalha. Quando parecia que uma delas estava para começar, vinha a ordem de retirada. Foi essa constante ordem de retirar antes do início da batalha, ou pelo menos antes que a batalha estivesse travada, que quebrou a resistência belga.

...

Outro mistério: os alemães afirmam que depois que atravessaram a fronteira franco-belga, de Mauberge a Sedan, continuaram avançando diretamente através da região do Norte da França até o Canal da Mancha, quase sem disparar um tiro. Quando alcançaram o litoral, Boulogne e Calais estavam sendo defendidas sobretudo por tropas britânicas. Todo o Exército Francês parecia paralisado, incapaz de levar adiante a menor ação, de desfechar o mais ligeiro contra-ataque.

De fato, os alemães possuíam absoluta superioridade aérea. É verdade que os ingleses não forneceram a força aérea que podiam e deviam ter fornecido. Nem mesmo isso entretanto explica a débâcle francesa. (...)”

Diário de Berlim
W Shirer

Trad. Alfredo C. Machado
Nota minha:

Aqui no Diário de Berlim, W Shirer abre uma problemática que será melhor elaborada na sua obra A Queda da França (Collapse of the Third Republic – a Inquiry into the Fall of France in 1940, publicado em 1969), onde polemiza sobre as 'quintas colunas' (fascistas e comunistas) contra a República democrática, além das novas táticas alemãs – ataque aéreo, paraquedistas, tanques concentrados – contras as velhas táticas doa aliados – preocupados com defesa e contando com uma infantaria sem apoio motorizado e aéreo.

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Por Leonardo de Magalhaens
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sexta-feira, 18 de junho de 2010

junho de 1940 - A Queda da França




1940 – A Queda da França

Em 11 de junho, o governo francês está na cidadezinha de Briare, e recebe uma visita do Primeiro-Ministro britânico Churchill, que percebe um pessimismo do General Weygand, ministro da Defesa, ao mesmo tempo em que percebe o rancor de um general, agora subsecretário da Defesa Nacional , membro recente do governo derradeiro, chamado Charles De Gaulle. Contrário ao armistício, De Gaulle (arauto das forças blindadas) defendia a resistência francesa numa retirada para as colônias africanas.

Mas enquanto os líderes discutem, as tropas e os panzer de Guderian contornam a Linha Maginot, numa manobra de cerco que resulta no aprisionamento de cerca de meio milhão de soldados franceses, num avanço em arco a se estender até a fronteira suiça. É a vitória do 'movimento' contra a 'linha defensiva'.

Quando a vanguarda do XVIII Exército de von Küchler adentra a desmilitarizada metrópole parisiense, em 14 de junho (um mês antes das comemorações da Queda da Bastille, em 14 de julho de 1789, início da Revolução Francesa), os líderes se reúnem no dia seguinte para votarem entre a rendição ou a resistência. Já vimos que Pétain estava entre os que preferiam o armistício, enquanto o primeiro-ministro francês Reynaud e De Gaulle preferiam a luta. Weygand, por outro lado, pretendia mostrar um realismo. Não havia 'reserva estratégica' para deter e derrotar os alemães (e mesmo que houve tropa, não havia aviação suficiente).

Diante de tal cenário sem esperanças, os britânicos terminam por abandonar a França ao norte pelos portos do Canal da Mancha. E o resignado Pétain assume o Governo, e rejeita a última proposta de Churchill (de que GBR e França se unissem numa 'cidadania comum') Esta rejeição mostra a preferência do 'herói nacional' na condição francesa enquanto 'protetorado' da Alemanha do que 'satélite' da Grã-Bretanha. A queda da França foi também a queda da aliança entre ingleses e franceses. Tudo o que Hitler queria.


cartoon alemão


Diz o leão britânico ferido ao galo apunhalado no cartoon alemão (publicado no Das Reich): “A tua morte me deixa muito desapontado! - Felizmente para mim ficaram ao menos as tuas colônias como uma lembrança (souvenir)!” (Mit deinem Hinscheiden enttäuschst Du mich sehr! - Hoffentlich blieben mir wenigstens Deine Kolonien als Souvenir!)

Enquanto isso, De Gaulle decide proclamar a reunião da “França Livre”, mesmo que sejam forças concentradas nas colônias africanas. Para a resistência a guerra não termina com a Queda da França, pois trata-se de uma Guerra Mundial, abrangente e prolongada. Mas ainda ninguém espera realmente que a França (e Pétain!) sejam 'libertado por De Gaulle e seus bravos', pois o que há além de uma multidão de refugiados? Cerca de 8 milhões de refugiados seguem pelas estradas do sul – expostas ao ataque dos caças da Luftwaffe, impiedosos e prontos para espalhar o terror.

Em 18 de junho, Hitler recebe Mussolini em Münich (Munique) para comunicar o armísticio com os franceses, onde se estabelece uma divisão da França: norte e litoral atlântico sendo ocupado pelos alemães e o sul governado pelo velho Pétain, na cidade de Vichy (daí o termo 'França de Vichy'). O armistício (ou 'capitulação') será assinado entre os militares alemães e os representantes franceses (General Huntziger), enquanto, no sul, os fascistas italianos combatem tropas francesas (compostas de três divisões alpinas), até o armistício França-Itália, em 24 de junho, com a presença do Gen. Huntziger em Roma.

Na cena da assinatura do armistício não poderia faltar o vagão onde antes o Império Alemão assinara a derrota na PGM. Arrancado da paz do museu, o vagão serviu como instrumento de 'revanche' para o orgulho ferido dos militares alemães. Ali, os abatidos e humilhados da vez seriam os líderes franceses, que não se prepararam para a 'guerra de movimento', chamada agora de “Blitzkrieg” (guerra-relâmpago).
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Trechos de
O Duelo : Churchill X Hitler
John Lukacs
trad. Claudia M Gama
Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2002

“O dia 18 de junho de 1940 marcava o centésimo vigésimo quinto aniversário da batalha de Waterloo. Foi a última batalha das guerras do mundo travada por mais de um século entre França e Inglaterra. Depois de Waterloo, a Alemanha cresceu e a França declinou. Cem anos depois de Waterloo, França e Grã-Bretanha lutavam lado a lado contra os alemães. Agora, em 1940, a França caia nas mãos dos alemães e a Grã-Bretanha estava só, enfrentando perigos incomensuravelmente maiores do que os que enfrentara nos tempos de Waterloo. O ano de 1940 também marcava outra coincidência histórica. Tarde da noite do Dia do Waterloo, Hitler voltou de Munique para seu quartel-general, o Reduto do Lobo, a poucos quilômetros da cidade fronteiriça francesa de Rocroi, um vilarejo soturno e cinzento. (...)

Se o poder mundial da França diminuiu depois de Waterloo, o poder aumentou em Rocroi. Foi lá que, 297 anos de 1940, travou-se uma das batalhas mais decisivas da história da Europa. Foi em Rocroi, em 1643, que a França derrotou a formidável infantaria espanhola. Com essa vitória os franceses se tornaram a maior potência da Europa, na verdade, do mundo ocidental. Para os espanhóis, a derrota de seu exército em Rocroi foi tão decisivia quanto a derrota de sua Armada no canal da Mancha em 1588. (...)” pp. 126-127
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Hitler em Paris

“Dois dias depois [23 junho], [Hitler] voou para Paris no inabitual horário de três e meia da manhã. Levou consigo seu escultor favorito, Arno Brecker, e seu arquiteto preferido, Albert Speer. Eles fizeram uma rápida visita a uma Paris vazia nas primeiras horas da manhã. Hitler assombrou sua comitiva com a familiaridade que demonstrou com relação a alguns edifícios, sobretudo a Opéra, onde seu minucioso conhecimento surpreendeu o grave funcionário francês que fora apanhado para guiá-los pelos corredores. Foi um passio estranho, furtivo e insone. Às dez da manhã já estavam de volta ao Reduto do Lobo. Por vários dias Hitler falou sobre a beleza de Paris, que então vira pela primeira vez. Enquanto isso, aguardava novas notícias de Londres. Depois foi, com antigos camaradas, visitar os campos de batalha onde servira na Primeira Guerra Mundial. No dia seguinte, 27, trocou o Reduto do Lobo pelo novo quartel-general próximo a Knibis, na Floresta Negra alemã.” p. 130
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Churchill e o discurso da 'finest hour'

"Na tarde do Dia de Waterloo, Churchill fez sei discurso mais famoso na Câmara dos Comuns. Foi o discurso da “hora mais gloriosa”, que tem uma história singular. Vimos que no dia anterior ele se dirigira ao povo britânico com um curto pronunciamento de dois minutos. Agora falava outra vez. O discurso no Parlamento durou menos de trinta minutos. Os parlamentares ficaram impressionados, embora ele parecesse um pouco fatigado. No entanto, pouco depois naquela tarde algumas pessoas disseram a Churchill que, em benefício do moral nacional, ele deveria falar à nação. Assim, quatro horas mais tarde Churchill leu novamente seu discurso na BBC. Não gostou de fazer isso; muitas pessoas acharam que não soou bem. [...]

Nesse ponto, o historiador tem de dizer algo sobre o efeito dos discursos de Churchill naquele verão. Sua receptividade foi menos evidente do quenos habituameos a acreditar. (...) George Orwell, ao escrever em seu diário em 24 de junho, concordou com sua esposa que “as pessoas de pouco estudo são com frequencia tocadas por um discurso em linguagem solene, que na verdade não compreendem mas sentem que impressiona, p.ex. A sra. A impressionou-se com os discursos de Churchill, embora não os entenda palavra por palavra.” p. 132

O motivo do discurso: o derrotismo após a Queda da França

“Na reunião matinal de 16 de junho, [Anthony] Eden disse que vira um relatório do Ministério da Informação sobre a opinião pública que “não era muito encorajador”. Ainda assim, no dia seguinte Churchill disse ao Gabinete que “a masa da população continuava com notável animação sob adversidade”. Lord Normanbrook lembrou que, quando a França caiu, havia confusão e perplexidade e em alguns bairros o moral era frágil”. Em algum momento entre 16 e 26 de junho, “um sentimento de desânimo e apreensão foi registrado no país como um todo”. O Ministério da Informação observou no dia 17 que, “a menos que houvesse forte liderança do primeiro-ministro, o derrotismo certamente ganharia terreno e haveria uma séria divisão entre governo e povo”. (Foi por isso que Duff Cooper e seus amigos imploraram a Churchill no dia 18 para falar na BBC.) (...)

Em 27 de junho, Sir Stafford Cripps, embaixador britânico recém-chegado a Moscou, escreveu a Halifax uma mensagem longa e bastante pessimista,na qual previa a necessidade de preparar a opinião pública britânica para uma eventual transferência do governo de Londres para o Canadá.
Podemos no entanto garantir que, em 26 de junho, a segunda maior crise de Churchill de modo geral se atenuara. Ele e seu povo haviam sobrevivido ao choque da rendição da França.” (pp. 134 e 135)

trecho final:

"O que o General Weygand chamou de Batalha da França já terminou. Eu espero o começo da Batalha da Grã-Bretanha. Desta batalha depende a sobrevivência da civilização cristã. Dela depende nossa própria vida britânica, e a longa continuidade de nossas instituições e nosso Império. A completa fúria e poder do inimigo deve logo voltar-se para nós. Hitler sabe que ele precisa nos derrotar nesta ilha ou perderá a guerra. Se nós podermos resistir a ele, toda a Europa poderá ser liberta e a vida do mundo seguirá adiante para amplas e ensolaradas terras.

Mas se nós falharmos, então todo o mundo, incluindo os Estados Unidos, incluindo tudo o que conhecemos e amamos, afundará num abismo de uma era sombria feita o que há de mais sinistro, e talvez mais prolongado, devido as luzes da ciência pervertida. Vamos então assumir nossos deveres, e apoiarmos uns aos outros, pois se o Império Britânica e o Commonwealth durar uns mil anos, os homens dirão ainda, “esta foi a hora mais gloriosa deles”.
(trad. LdeM)

What General Weygand has called the Battle of France is over. I expect that the Battle of Britain is about to begin. Upon this battle depends the survival of Christian civilisation. Upon it depends our own British life, and the long continuity of our institutions and our Empire. The whole fury and might of the enemy must very soon be turned on us. Hitler knows that he will have to break us in this island or lose the war. If we can stand up to him, all Europe may be freed and the life of the world may move forward into broad, sunlit uplands.

But if we fail, then the whole world, including the United States, including all that we have known and cared for, will sink into the abyss of a new dark age made more sinister, and perhaps more protracted, by the lights of perverted science. Let us therefore brace ourselves to our duties, and so bear ourselves, that if the British Empire and its Commonwealth last for a thousand years, men will still say, This was their finest hour.
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por Leonardo de Magalhaens
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sábado, 12 de junho de 2010

A Itália de Mussolini decide entrar na Guerra





A Itália de Mussolini decide entrar na Guerra

O ditador Mussolini ainda mantinha um papel ambíguo de 'mediador' entre potências e ao mesmo tempo alinhado com a Alemanha militarmente em ascensão. Não rompia a neutralidade por ter reconhecido a pouca eficiência bélica italiana (vejam bem as campanhas na Etiópia e na Albânia, mais plenas de crueldade do que eficiência), mas percebia que a Alemanha nazista poderia exigir a 'decisão' dos fascistas – assim que se percebesse vitoriosa. E a Itália fascista precisava mesmo assumir seu discurso anti-democrático.

Lembrando sempre que as potências da época eram Grã-Bretanha e França (e os EUA), os vencedores da Primeira Guerra Mundial, a mesmas que não haviam cumprido as promessas à Itália. Ainda que preferissem Mussolini no poder – do que os 'comunistas'. E nada teriam feito contra Mussolini (assim como nada fizeram contra Franco) caso do Duce tivesse mantido sua não-beligerância.

Mas a situação foi outra. Ao perceber a rápida retirada das forças aliadas nos Flandres e no norte da França, o Duce começou a temer que a Guerra acabasse antes dos fascistas italianos entrarem no 'jogo'. Os britânicos – ao contrário – diziam que o Duce receberia certamente sua 'cota' de guerra. (Churchill era até irônico, sabendo da ineficiência bélica italiana) A Itália então entenderia o que significa 'desafiar uma potência'.
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10 de junho de 1940

Discurso do ditador Mussolini na Piazza Venezia
Declaração de Guerra em junho de 1940

“Combatentes de terra, de mar e do ar! Camisas negras da revolução e das legiões! Homens e mulheres da Itália, do Império e do reino da Albânia! Escutem! Uma hora assinalada do destino ressoa no céu de nossa pátria. (vivas aclamações) A hora da decisão irrevogável. A declaração de guerra já foi consignada (aclamações, gritaria alta de “Guerra, Guerra!”) aos embaixadores da Grã-Bretanha e da França. Saímos em campo contra as democracias plutocráticas e os reacionários do Ocidente, que, em todo tempo, criaram obstáculo a marcha, e mesmo minado a existência mesma do povo italiano.

Alguns anos da história mais recente se podem resumir nestas frases: promessas, ameaças, chantagens e, ao fim, como um coroamento do edifício, o ignóbil assédio societário de cinquenta e duas nações. A nossa consciência está absolutamente tranquila. (Aplausos.) Com vocês o mundo inteiro é testemunha que a Itália do Littorio fez o que era humanamente possível para evitar a tormenta que convulsiona a Europa; mas foi tudo em vão.

[...]
Nós empunhamos as armas para resolver, depois o problema resolvido da nossa fronteira continental, o problema das nossas fronteiras marítimas; nós queremos despedaçar as cadeias das ordens territoriais e militares que nos sufocam em nossos mares, pois um povo de quarenta e cinco milhões de pessoas não é realmente livre se não tem livre o acesso ao oceano. Esta luta gigantesca não é mais que uma fase do desenvolvimento lógico da nossa revolução; é a luta do povo pobre e de braços numerosos contra os ávidos que detêm ferozmente o monopólio de toda a riqueza e de todo o ouro da terra; é a luta do povo fecundo e jovem contra os povos estéreis e decadentes; é a luta entre dois séculos e duas ideias. Momento em que os dados são jogados e a nossa vontade tem queimado em nossas veias, eu declaro solenemente que a Itália não pretende arrastar outros povos ao conflito com fronteiras comuns por mar ou terra. Suiça, Iugoslávia, Grécia, Turquia, Egito, tomem nota dessas minhas palavras e depende deles, apenas deles, se tal será confirmado ou não.
[...]
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trad. Leonaro de Magalhaens
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Aqui, o Duce Mussolini julga falar em nome da 'revolução': considera o 'fascismo' uma revolução contra os 'reacionários', aqueles das 'grandes potências' diatas 'democráticas', mas o regime fascista era claramente tutelado por uma 'monarquia'. Tanto que alguns fascistas eram abertamente 'republicanos' (e somente subiram ao poder na República de Salò, então sob tutela nazista, em 1943.)

Também afirma retoricamente o ditador fascista que não pretende entrar em conflito com alguns países próximos, mas acabou atacando a Grécia em 1940/41, e sofreu resistência, a ponto dos alemães entrarem no conflito nos Balcãs, o que atrasou a invasão da URSS em um mês. (A Operação Barbarossa não foi iniciada em maio, mas em junho de 1941)
Discurso do Mussolini na Declaração de Guerra
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Combattenti di terra, di mare e dell'aria! Camicie nere della rivoluzione e delle legioni! Uomini e donne d'Italia, dell'Impero e del regno d'Albania! Ascoltate! Un'ora segnata dal destino batte nel cielo della nostra patria. (Acclamazioni vivissime). L'ora delle decisioni irrevocabili. La dichiarazione di guerra è già stata consegnata (acclamazioni, grida altissime di "Guerra! Guerra! ") agli ambasciatori di Gran Bretagna e di Francia. Scendiamo in campo contro le democrazie plutocratiche e reazionarie dell'Occidente, che, in ogni tempo, hanno ostacolato la marcia, e spesso insidiato l'esistenza medesima del popolo italiano .

Alcuni lustri della storia più recente si possono riassumere in queste frasi: promesse, minacce, ricatti e, alla fine, quale coronamento dell'edificio, l'ignobile assedio societario di cinquantadue stati. La nostra coscienza è assolutamente tranquilla. (Applausi). Con voi il mondo intero è testimone che l'Italia del Littorio ha fatto quanto era umanamente possibile per evitare la tormenta che sconvolge l'Europa; ma tutto fu vano.
[...]

Noi impugniamo le armi per risolvere, dopo il problema risolto delle nostre frontiere continentali, il problema delle nostre frontiere marittime; noi vogliamo spezzare le catene di ordine territoriale e militare che ci soffocano nel nostro mare, poiché un popolo di quarantacinque milioni di anime non è veramente libero se non ha libero l'accesso all'Oceano. Questa lotta gigantesca non è che una fase dello sviluppo logico della nostra rivoluzione; è la lotta dei popoli poveri e numerosi di braccia contro gli affamatori che detengono ferocemente il monopolio di tutele ricchezze e di tutto l'oro della terra; è la lotta dei popoli fecondi e giovani contro i popoli isteriliti e volgenti al tramonto, è la lotta tra due secoli e due idee. Ora che i dadi sono gettati e la nostra volontà ha bruciato alle nostre spalle i vascelli, io dichiaro solennemente che l'Italia non intende trascinare altri popoli nel conflitto con essa confinanti per mare o per terra. Svizzera, Jugoslavia, Grecia, Turchia, Egitto prendano atto di queste mie parole e dipende da loro, soltanto da loro, se esse saranno o no rigorosamente confermate.
[...]
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“A declaração de guerra da Itália à França e Inglaterra foi entregue por Galeazzo Ciano aos embaixadores respectivos, François-Poncet e Sir Percy Loraine. As reações de ambos foram diferentes. O embaixador francês, emocionado, afirmou a Ciano que a declaração era '... uma punhalada num homem caído...' e assegurou ao ministro italiano da Relações Exteriores que 'os alemães são senhores duros. Vocês também se darão conta disto...' Por último, ao sair da Chancelaria, disse-lhe, assinalando o uniforme de aviador que Ciano trajava: 'Não se deixe matar...' Por seu turno, o embaixador inglês, Sir Percy Loraine, flegmático recebeu a notícia sem demonstrar qualquer perturbação. Ao se despedirem, fizeram-no com 'um largo e cordial aperto de mãos'.”

“Às 16 horas do dia 10 de junho, o embaixador francês em Roma, André François Poncet, telefonou a Reynaud, informando que acabara de receber das mãos do Conde Ciano a comunicação da declaração de guerra do Governo italiano.”

“Pouco depois de receber a comunicação de François-Poncet, o governo francês resolveu abandonar Paris. À meia-noite, Reynaud,a companhado pelo genral De Gaulle, partiu de automóvel à cidade de Orléans. Tão logo difundiu-se a notícia, milhares de parisienses lançaram-se em fuga, provocando uma espantosa confusão nas estradas para o sul.”

Fonte: Segunda Guerra Mundial. Ed. Codex, 1965


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por Leonardo de Magalhaens


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quarta-feira, 9 de junho de 2010

2ª etapa da Batalha da França - Fall Rot





Fall Rot / Case Red
Caso Vermelho
2ª etapa da Batalha da França
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Após o sucesso da Fall Gelb (Caso Amarelo), a ofensiva contra os Países Baixos, através de Flandres e Ardennes, com a expulsão da BEF (Força Expedicionária Britânica) nas praias de Dunkirk, em 4 de junho de 1940, as operações bélicas das tropas alemãs foram reiniciadas em 5 de junho rumo a costa da Canal e a metrópole parisiense.

Atuando em toda a Linha Weygand – os pontos principais da defesa francesa – as vanguardas panzer atacaram na região do rio Somme, numa linha Abbeville – Amiens – Peronne, onde 95 divisões alemães golpeavam cerca de 50 divisões francesas. A supremacia germânica nos ares era evidente. Se os franceses pouco podiam contar com a aviação – ainda mais depois que a RAF se recolheu aos limites do Canal da Mancha (1) – a Luftwaffe contavam com cerca de 3 mil aviões, em apoio às manobras de artilharia e infantaria.

As forças blindadas (1,2 mil panzer) comandadas pelos generais Kleist e Hoth, do Grupo de Exército B, do General von Bock, pressionaram ao nordeste de Paris, enquanto os panzers comandados por Guderiam (do Grupo de Exércitos A, do General Rundstedt) contornavam a Linha Maginot, o supostamente invencível sistema defensivo dos franceses.

O teatro de operações do Caso Vermelho englobavam justamente as regiões onde os alemães foram 'barrado' nas defensivas aliadas da Primeira Guerra Mundial. Ali as tropas de assalto germânicas enfrentram a artilharia dos franceses e britânicos – e depois dos norte-americanos, em 1918 – em 'batalhas de atrito' tais como as de Marne, Verdun, Somme, Arras, Ypres e Amiens. Então, em 1940, a 'guerra de movimento' impedia a 'guerra estacionária', pois as defesas francesas não tinham tempo para estabelecer um 'sistema de trincheiras', uma vez que eram atacadas por cima!

Foi justamente para evitar as batalhas de desgaste – tão sangrentas na Grande Guerra – que positivamente pouco conquistavam além de alguns quilômetros quadrados de terra arrasada, que os comandantes alemães tudo fizeram para manter a 'guerra em movimento' sem dar tempo aos inimigos para montarem sistemas defensivos. Parar a ofensiva era submeter-se ao contra-ataque. Atacar sempre – era a ordem na Blitzkrieg.

Assim, os panzer avançam para o sul, deixando a tarefa para a infantaria alemã de enfrentar as resistências da infantaria francesa. Enquanto a artilharia não 'dava cobertura', este esforço era mantido pela Luftwaffe, sempre a bombardear os 'focos de resistência'.

O movimento constante leva os blindados da 7ª Panzerdivision, do General Rommel, a cruzar o rio Somme à altura de Le Havre, enquanto o rompimento da Linha Weygand é competado em 7 de junho, quando as tropas invasoras seguem rumo a Rouen, no rio Sena, ao norte de Paris, de onde o Alto Comando francês ordena uma retirada geral em 8 de junho.

Em 10 de junho, os blindados de Rommel situam-se na linha de Fécamp (costa do Canal da Mancha) onde envolvem o X Exército francês, na linha defensiva derradeira. Nisso, a Linha Maginot é contornada e atacada pelos flancos e retaguarda. Enquanto isso, ao sul, na região dos Alpes, e na Côte de Azur, ou Riviera francesa, nas costas do Mar Mediterrâneo, nota-se um movimento de tropas italianas, enquanto ainda se ouvem os ecos do discurso do ditador fascista Mussolini, em sua declaração de guerra. [Em próxima postagem, falaremos da Itália na Guerra.]

Empurrados para a Capital, os franceses descobrem que os dirigentes preparam-se para abandonar a 'cidade luz', rumo a Bordeaux, enquanto novas lideranças se destacam. É neste momento que se iniciam as conversações entre Churchill e o militar Subsecretário da Defesa, o General De Gaulle.

No gabinete francês de 15 de junho, no momento de uma importante votação a decidir o futuro da República francesa, 6 votos são dados a favor da resistência, enquanto 13 votos – inclusive do Marechal Pétain! (2) - são favoráveis à capitulação. Como poderiam os soldados prosseguir na luta se os próprios líderes não acreditavam mais na vitória? Eis a desmoralização, a Queda da França.
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Notas:

(1)Em 15 de maio, o Marechal do Ar, H. Dowding convenceu o primeiro-ministro W Churchill a não enviar mais aviões para a França.

(2)O Marechal Pétain foi um dos líderes da resistência francesa e aliada na Grande Guerra e um dos símbolos da vitória de 1918. Era surpreendente o seu voto a uma capitulação. Mas, segundo os historiadores, o Marechal preferia um 'governo forte' pró-nazista do que uma resistência que poderia levar à um caos e assim abrir brechas para uma 'subversão' comunista. Em Vichy, o Marechal assumiria o governo colaboracionista.
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por Leonardo de Magalhaens
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sexta-feira, 4 de junho de 2010

Avanço alemão no Oeste - maio/junho 1940






trechos do DIÁRIO DE BERLIM
de W. Shirer
trad. Alfredo C. Machado
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[1940]

BERLIM, 31 de maio

Parece que a Itália está-se aproximando cada vez mais do dia da decisão – a de entrar na guerra ao lado da Alemanha. Hoje, Dino Alfieri, o Embaixador Italiano, entrevistou-se com Hitler no Quartel-General deste último.

Fazem hoje três semanas que Hitler lançou seus exércitos contra a Holanda, Bélgica, Luxemburgo e França, num desesperado esforço destinado a abater os Aliados de um só golpe. Até aqui, decorridas estas três semanas, somente conseguiu sucesso para as suas Armas. O que lhe custaram esses sucessos em homens e materiais, não o sabemos ainda. Mas, o que se segue é a lista das vantagens obtidas nestes vinte e um dias;

1)Dominou a Holanda e obrigou o Exército Holandês a capitular.
2)Dominou a Bélgica e obrigou o Exército Belga a fazer o mesmo.
3)Avançou pelo extremo sul da Linha Maginot, ao longo de uma frente que se estende por mais de trezentos e vinte quilômetros, de Montmédy a Dunquerque [Dunkirk].
4)Desbaratou os 1º, 7º e 9º Exércitos Franceses, que ficaram inteiramente isolados quando um exército alemão conseguiu abrir caminho entre eles e avançar até o mar.
5)Desbaratou a BEF [Força Expecidionária Britânica], que está também cercada. Uma parte das tropas inglesas, pelo menos, está evacuando de Dunquerque [Dunkirk], a bordo dos seus transportes. Mas como exército a BEF está aniquilada, pois não pode levar na retirada os seus tanques-canhões e suprimentos.
6)Conseguiu conquistar os litorais da Holanda, Bélgica e França, sobre o Canal da Mancha, que lhe servirão de trampolim para uma invasão da Inglaterra.
7)Ocupou as importantes minas de carvão e centros industriais da Bélgica e do norte da França.
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Em minha irradiação [transmissão radiofônica] desta noite, disse o seguinte: “Não resta a menor dúvida de que os alemães venceram um primeiro round feroz. Mas, até agora, ainda não se registrou o nocaute fatal. E a luta continua.

[...]

BERLIM, 4 de junho

Acabou-se a grande batalha da Flandres [região entre França e Bélgica] e de Artois. O Exército Alemão entrou hoje em Dunquerque [Dunkirk], entregando-se o remanescente das tropas aliadas – cerca de quarenta mil homens. O Alto Comando Alemão, num comunicado oficial, diz que essa batalha passará à História como “a maior batalha de destruição de todos os tempos”. As perdas alemãs durante a ofensiva na frente ocidental, tal como foram hoje publicadas, são as seguintes: mortos – 10.252; desaparecidos – 8.467; feridos – 45.523; aviões perdidos – 432. Esses números são realmente espantosos. Apenas há três dias, os militares deram-nos a entender que a lista das perdas alemãs seria publicada dentro em pouco e que dela constariam aproximadamente de 35 a 40 mil mortos e de 150 a 160 mil feridos. Mas a maioria dos alemães acreditará piamente em qualquer cifras que lhes forneçam.

O mesmo comunicado refere-se também às perdas aliadas: 1.200.000 prisioneiros, inclusive belgas e holandeses. E toda uma esquadra destruída, inclusive cinco cruzadores e sete destroyers afundados, além de dez cruzadores e vinte e quatro destroyers avariados. O Alto Comando afirma ainda que a Marinha Alemã não perdeu uma única unidade.

Paris anuncia que se registraram 50 mortos e 150 feridos em consequência dos ataque aéreo alemão de ontem. A BBC afirma que os parisienses estão clamando por vingança. Mas nenhum avião aliado apareceu ontem sobre Berlim; nenhum ainda esta noite...

[...]

BERLIM, 6 de junho

Hoje, repicaram todos os sinos das igrejas de Berlim, que amanheceu embandeirada por ordem de Hitler para comemorar a vitória da Flandres. Entretanto, era impossível notar qualquer contentamento especial do povo. Nenhuma emoção, qualquer que fosse. Na grandiosa proclamação dirigida ao Exército e ao povo, Hitler anunciou que hoje estava sendo lançada uma nova grande ofensiva no ocidente. Até aqui não se sabe de nenhum detalhe dessa operação, mas a BBC anuncia que essa ofensiva está sendo lançada ao longo de uma frente de 200 quilômetros, que se estende de Abbeville a Soissons, concentrando os alemães a sua maior pressão sobre a área do canal Somme-Aisne.

Ouvir dizer que os Aliados têm bombardeado Munich e Frankfurt estas últimas noites. Mas em Berlim nunca se diz coisa alguma desses ataques inimigos. E até agora ninguém aqui sentiu a guerra.
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Trechos do DIÁRIO DE BERLIM
do jornalista norte-americano William Shirer
(depois seria autor de A Ascensão e a Queda do III Reich)
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