quarta-feira, 21 de julho de 2010

Adolf Hitler fala no Reichstag - 19 julho 1940



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Diário de Berlim
W Shirer
trad. Alfredo C Machado


BERLIM, 19 de julho [1940]

Não vai haver uma Blitzkrieg contra a Inglaterra. Pelo menos por enquanto. Hoje à noite, falando perante o Reichstag, Hitler 'ofereceu' a paz. Disse não ver motivo algum pelo qual a guerra devesse continuar. Mas é claro que se trata de uma paz em que ficará com as rédeas do continente nas mãos, como vencedor. Saindo do espetáculo fantástico do Reichstag – que foi o mais brilhante de todos a que assisti – fiquei pensando no que fariam os ingleses. No que diz respeito aos alemães, não existe a menor dúvida. Como manobra calculada com fim de congregá-los para o ataque contra a Grã-Bretanha, foi uma obra-prima. Isso porque, agora, o povo alemão dirá: “Hitler oferece a paz à Inglaterra e não lhe dão nenhuma importância. Ele afirma que não vê motivo pelo qual a presente guerra deva continuar. Portanto, se continuar, a culpa é da Inglaterra”.

Estava pensando em qual seria a resposta dos ingleses, minutos depois de ter chegado à Rundfunk para redigir a minha crônica, quando ouvi a irradiação da BBC, em alemão. E já estava ali a resposta! Era um grande NÃO! Quanto mais pensava no caso, menos motivos encontrava para me surpreender. Para a Inglaterra, uma paz assinada com uma Alemanha colocada na situação de senhora absoluta do continente é impossível. Mais ainda: os ingleses devem possuir os seus motivos para acreditar que podem defender vitoriosamente as suas ilhas, acabando por impor uma derrota a Hitler. Isto porque o próprio Hitler lhes deu um meio fácil de salvar pelo menos alguma coisa. Apenas há um ano e meio em Munich, pude vê-los apegando-se a essa tábua de salvação. Agora o Não da BBC foi perfeitamente enérgico. O locutor ridicularizou todas as atitudes de Hitler. Vários oficiais do Alto comando e funcionários do Ministério que se achavam na sala não podiam acreditar no que ouviam. Um deles não se conteve e gritou-me: -Está entendendo alguma coisa? Por acaso, pode compreender esses ingleses malucos? Rejeitar agora uma proposta de paz? - Limitei-me a resmungar qualquer coisa. -eles estão loucos? - gritou o oficial.

Hitler apresentou a sua 'oferta' de paz de maneira muito eloquente, pelo menos para os alemães. Disse ele: - Neste momento, sinto que é meu dever perante a minha própria consciência apelar uma vez mais para a razão e o bom senso. Não posso descobrir um motivo pelo qual esta guerra deva prosseguir.

Não houve nenhum aplauso, nenhuma ovação, nenhum bater das pesadas botas. Apenas um grande silêncio. E um ambiente carregado. Porque, no íntimo, os alemães hoje anseiam pela paz. No meio desse silêncio, Hitler continuou: -Sinto-me entristecido ao pensar nos sacrifícios que a guerra vai exigir. E gostaria de evitá-los para o bem do meu povo.

O Hitler que vimos esta noite no Reichstag era um Hitler vencedor, cônscio da sua posição, que mesmo assim soube ser um ator tão maravilhoso, tão magnificamente senhor da alma alemã, que conseguiu misturar soberbamente a confiança do vencedor com a humildade que sempre causa bom efeito junto às massas, quando estas sabem que existe um homem ao leme. [...]

Mais uma vez notei também de que forma Hitler é capaz de mentir com uma impassibilidade que nenhum outro homem possui. Provavelmente algumas dessas mentiras não são propriamente mentiras para ele, que acredita fanaticamente nas próprias palavras, como por exemplo, a sua falsa recapitulação dos últimos vinte e dois anos e a sua constante reafirmação de que a Alemanha nunca foi realmente derrotada na Grande Guerra, e sim apenas traída. [...]

Nota minha:

Interessante. No discurso de Hitler há três menções nominais ao primeiro-ministro britânico Churchill, e nenhuma menção, citação ou referência aos Estados Unidos da América. Justamente o país no qual o governo da Grã-Bretanha depositava toda a confiança – a GBR não poderia continuar a guerra sem apoio dos EUA – isto era óbvio.

Resumo: basicamente o ditador alemão faz um 'apelo a razão' ao Governo britânico, pois não pretende intensificar a guerra ao atacar a Grã-Bretanha e seu Império mundial. A obstinação da GBR se deve às esperanças de envolvimento de intervenções dos EUA e/ou da URSS – o que tornaria a 'guerra europeia' GBR X III Reich numa 'guerra mundial' Eixo X Aliados. (O que aconteceria em 1941/42)

No mais, Hitler aproveitou para demonstrar poderio militar, ao elevar Göring à Reichsmarschall e outros 12 generais a GeneralFeldmarschall (von Brauchitsch, Kesselring, Keitel, von Kluge, von Leeb, von Bock, List, von Witzleben, von Reichenau, Milch, Speerle, von Rundstedt), como diz, sarcasticamente, W Shirer, em seu diário, “a certa altura, parando em meio ao discurso que estava pronunciando, Hitler transformou-se num outro Napoleão, criando com um simples movimento de sua mão (neste caso, a saudação nazista) doze marechais-de-campo. Como Göring já era um deles, o Führer criou-lhe um posto especial – o de Marechal do Reich.” (19 de julho)

BERLIM, 20 de julho

Até agora não se registrou nenhuma reação oficial inglesa à “oferta de paz” de Hitler. No entanto, Goebbels obrigou a imprensa local a fornecer amavalmente ao povo alemão a notícia de que, aparentemente, os ingleses ainda nãotiveram tempo para isso. Os alemães com quem falei não podem compreender essa atitude. Eles desejam a paz. Não querem passar um novo inverno da mesma forma que o último. Não têm nada contra a Grã-Bretanha, a despeito de toda a campanha provocadora. (É que, da mesma forma que um remédio aplicado com muita frequencia, ela também está perdendo a pouca força que possuía.) Acreditam que alcançaram o ponto máximo e acreditam também que podem derrotar a Inglaterra se chegarem a um encontro. Mas prefeririam a paz.

Em Chicago, Roosevelt foi novamente escolhido para candidato democrático, para tentar um terceiro período presidencial. O fato representa um golpe para Hitler, que a Wilhelmstrasse mal pôde ocultar. Goebbels deu ordem aos jornais para que não comentassem o fato, permitindo entretanto que a DNB publicasse um breve despacho do seu correspondente em Washington, dizendo que os métodos pelos quais foi feita a escolha de Roosevelt foram severamente condenados por todas as testemunhas”.

Agora Hitler terá que esperar que Roosevelt seja derrotado por Willkie nas próximas eleições. A verdade é que Hitler receia Roosevelt. Está começando a compreender que o apoio do Presidente à Grã-Bretanha constitui um dos motivos principais que levaram os ingleses a declinar a espécie de paz que ofereceu. Tal como o redator-chefe do Frankfurter Zeitung, Rudolf Kircher, teve licença para publicar amanhã: “Roosevelt é o pai das ilusões inglesas na guerra atual. Talvez os vergonhosos expedientes de Roosevelt sejam demais para os americanos, talvez ele não seja eleito, talvez, depois de reeleito, seja levado a cingir-se estritamente ao programa de não-intervenção do seu partido. Mas é também perfeitamente claro que, ao mesmo tempo em que não intervém na luta com a sua Esquadra ou o seu Exército, intervirá com os seus discursos, as suas intrigas e a poderosa propaganda que porá à disposição dos ingleses.”
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Diário de Berlim
W Shirer
trad. Alfredo C Machado


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por Leonardo de Magalhaens

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quarta-feira, 14 de julho de 2010

Churchill's Speech - 14 July 1940







Em 14 de julho de 1940...

Discurso de Churchill em prol da unidade britânica

“Cinco dias antes, em 14 de julho, às nove horas da noite de domingo, Churchill fizera ao rádio um discurso para o povo da Inglaterra, quase um mês depois de seu discurso da “hora mais gloriosa”. Sob muitos aspectos, esse discurso foi mais revelador de Churchill do que o anterior, mais famoso. Ele pronunciou palavras tocantes a respeito dos franceses, no dia de seu feriado nacional. (“Proclamo minha crença de que alguns de nós viveremos para ver um 14 de julho em que uma França libertada mais uma vez se rejubilará em sua grandeza e sua glória.”) Havia um toque de magnanimidade em suas frases sobre o que acontecera em Oran. (“Quando se tem um amigo e camarada ... atingido por um golpe estonteante, é preciso assegurar que a arma que caiu da mão dele não seja acrescentada aos recursos do inimigo comum. É preciso, porém, não guardar rancor por causa dos gritos de delírio e gestos de agonia do amigo.”)(1) Ele exortou o povo inglês. (Se o invasor viesse, “o povo não se dobraria submisso a ele, como vimos, com tristeza, em outros países.” )

(1) no original, “ When you have a friend and comrade at whose side you have faced tremendous struggles, and your friend is smitten down by a stunning blow, it may be necessary to make sure that the weapon that has fallen from his hands shall not be added to the resources of your common enemy. But you need not bear malice because of your friend's cries of delirium and gestures of agony.”

Isso foi no mesmo dia, talvez na mesma hora, em que Hitler assinou a Diretriz n 16 para a invasão da Inglaterra. Eis aqui outro daqueles “trocadilhos espirituais”, uma coincidência indicativa que talvez haja constituído o ponto culminante do duelo: Hitler aprontando-se para partir da europa e invadir a Inglaterra; Churchill fazendo, na Inglaterra, seus primeiros planos para libertar a Europa.” (pp. 161-63)

(LUKACS, John. O Duelo Churchill X Hitler. Trad. Claudia Martinelli Gama. 2002)
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Em 16 de julho : Hitler decide aprovar a Operação Leão-Marino [Unternehmen Seelöwe]

“A sorte estava lançada. Estava mesmo? O fraseado da Diretriz nº 16 refletia bem a mente de Hitler. (Talvez se deva a isso a mudança do título de “Operação Leão” para “Operação Leão Marinho” - “Seelöwe” em alemão – fera não feroz.) A diretriz começava: “como a Inglaterra, apesar de sua deplorável situação militar, não mostra sinais de estar pronta para chegar a um acordo, decidi preparar uma operação de desembarque contra a Inglaterra e, se necessário, executá-la.” se necessário: ele ainda esperava não ter de fazê-lo. “O objetivo dessa operação é impedir que a ilha-mãe inglesa continue a fazer guerra contra a Alemanha e, se necessário ocupá-la completamente.” seguiam-se as diretrizes de toda a operação (a principal delas era “uma travessia de surpresa numa frente ampla de aproximadamente Ramsgate a oeste da ilha de Wright”). Os preparativos da operação têm de estar prontos em meados de agosto.” A Diretriz nº 16 não continha quase nenhuma retórica. O texto de quatro páginas estava repleto de detalhes técnicos militares. Sete cópias foram feitas e distribuídas entre os mais altos comandantes do exército, marinha e Luftwaffe”( p. 161)

Nota minha:

Em “Hitler” de J Fest encontramos um trecho revelador, “Não está de todo excluído que Hitler jamais tenha levado seriamente em consideração o desembarque em solo inglês e que se aproveitou disso apenas como uma arma na guerra de nervos.” (p. 757)

Em “Churchill – O Lorde da Guerra”(1973), de R. Lewin, encontramos algo sobre a mesma 'indecisão',

“De início, Churchill não poderia saber que Hitler, surpreendido pela velocidade com que atingiria o Canal da Mancha, não dispunha de plano para a invasão, ou nem mesmo tencionava realizá-la; pelo contrário, ideia original do Fuehrer era preservar a Grã-Bretanha e o império dentro de uma forma conveniente de neutralidade. A ordem preliminar do OKW, intitulada “A guerra contra a Inglaterra” só foi expedida por Keitel no dia 2 de julho. Principiava assim: “O Führer e Comandante supremo decidiu... que é possível desembarcar na Inglaterra, desde que possa ser alcançada a superioridade aérea e que sejam satisfeitas outras condições indispensáveis.” Além disto, decorreram quinze dias até a data em que Hitler endossou e ampliou esta ordem, através da Diretriz nº 16, ainda experimental e que principiava assim: “Decidi começar a preparar uma invasão da Inglaterra e executá-la, se necessário.” Não há dúvida que a diretriz primava pela indecisão.” (p. 63)
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por Leonardo de Magalhaens
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sábado, 3 de julho de 2010

Ataque britânico à frota francesa em Oran



Churchill ordena o afundamento da frota francesa em Oran

3 de julho de 1940
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trechos de algumas fontes:
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“A 3 de julho, enquanto Hitler ainda esperava um sinal de conciliação, ele [Churchill] manifestou mais uma vez sua inflexibilidade, dando ordem à frota inglesa para abrir fogo contra os aliados da véspera, isto é, contra as embarcações franceses refugidas no porto de Orã. Estupefato, decepcionado, Hitler protelou sine die seu discurso ante o Reichstag, previsto para 8 de julho. Na exaltação da vitória, achara antecipadamente que os ingleses renunciaram a um combate que ele [Hitler] imaginava sem saída, ainda mais que continuava sem qualquer intenção de tocar no império deles [dos britânicos]. Mas Churchill provou claramente, multiplicando os gestos demonstrativos, que não haveria negociações.” (FEST, Joachim, “Hitler”, 1976, pp. 755/756)
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“O povo está discutindo a ação de ontem dos ingleses, afundando três couraçados franceses na baía de Oran para impedir que viessem a cair em mãos dos alemães. Os franceses, que desceram a um ponto abaixo de qualquer imaginação, declaram que vão cortar as suas relações com a Grã-Bretanha. Afirmam que têm confiança na palavra de Hitler, que prometeu não lançar mão da Esquadra Francesa contra a inglaterra. Coitados! No entanto, éprovável a eclosão de uma grande irritação por toda a França. Positivamente, a Entente Cordiale está morta.” (SHIRER, W. “Diário de Berlim”, 1941, p. 136)
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“Os navios de guerra franceses mais modernos, o Dunkerque, o Strasbourg, o Richelieu e o Jean Bart, estavam fora do alcance de Hitler. Os dois primeiros, os mais modernos cruzadores de batalha, juntamente com um conjunto de outros navios, encontravam-se na base naval de Mers-el-Kebir, na Argélia francesa, quase cinco quilômetros a oeste de oran. A Operação Catapulta de Churchill tinha-os como alvo. Ele também tinha outro plano, a Operação Susan, um desembarque britânico no Marrocos francês. Seus conselheiros navais e militares persuadiram-no a abandonar o plano, pois exigiria uma desnecessária dispersão de forças britânicas no momento em que a ilha natal mais precisava delas. Como de costume, Churchill se irritava com os conselhos acauteladores, mas depois cedia. (Foi melhor assim: um desembarque britânico no Marrocos, mesmo se bem-sucedido – e isso era questionável – poderia ter instigado Hitler – e Franco – a persegui-los, tendo como provável resultado a conquista de Gibraltar e o fechamento do Mediterrâneo para os britânicos.) A própria Operação Catapulta constituía de certo modo uma reminiscência da destruição cruel e inesperada, por Nelson, da frota neutra dinamarquesa em Copenhague em 1801. havia, porém, uma diferença. Nelson atacou um inimigo potencial da Grã-Bretanha. Churchill atacaria os navios de um alaido recente da Grã-Bretanha, navios e marinheiros que não tinham nenhuma propensão para se alinharem com a Alemanha.
[...]

Antes do primeiro esmaecer do sol na quente tarde mediterrânea, os britânicos abriram fogo. Durou nove minutos. O Dunkerque e outro velho navio de guerra francês encalharam na praia. Outro navio explodiu. O Strasbourg saiu do porto. Mil duzentos e cinquenta marinheiros franceses morreram. No mesmo dia, a marinha britânica usou a força para tomar alguns dos barcos franceses menores ainda em portos britânicos. Em Alexandria, no Egito, fez-se um acordo pelo qual os vasos de guerra franceses seriam imobilizados, em condições não muito diferentes das obtidas por Hitler para supervisionar e imobilizar os navios franceses nos portos europeus.

Oran não foi um completo êxito naval. O Strasbourg escapou; o Richelieu, atacado pelos britânicos alguns dias depois em Dakar, só sofreu danos parciais. Mas foi um sucesso político para Churchill em mais de uma maneira. Chegaremos a suas repercussões na Grã-Bretanha em breve. Mais importantes foram suas repercussões em todo o mundo. Era um símbolo da disposição dos britânicos para a luta, da resolução de Churchill de atacar e se defender em seu duelo com Hitler. [...]

Oran foi uma espécie de virada psicológica dos destinos. No entanto – isso tem de ser dito em seu favor -, Churchill não estava se vangloriando. “Nada é mais bem-sucedido do que o sucesso” - isso era típico da mente de Hitler, não da de Churchill. Naquela noite, ele disse a Colville que o ocorrido em Oran “para mim foi de cortar o coração”. Não foi uma reação pesarosa depois de um feito cruel. Cinco dias antes de Oran, Churchill dissera ao Gabinete de Guerra: temos de convencer o povo francês “de que estamos sendo cruéis para sermos bons”. [...]
(LUKACS, John. O Duelo Churchill X Hitler. Trad. Claudia Martinelli Gama. 2002)
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fontes interessantes: WW2 / 1940
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por Leonardo de Magalhaens
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